A nova crise dos refugiados na Europa: o modelo de repulsão-atração revisitado e os desafios para as políticas migratórias

Autores

  • Catarina Reis Oliveira Observatório das Migrações
  • João Peixoto ISEG, Universidade de Lisboa
  • Pedro Góis Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e CES-UC

DOI:

https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0016

Palavras-chave:

Refugiados, Migrações, Europa, Proteção Internacional

Resumo

O objetivo deste artigo é refletir sobre os desafios que se colocam perante os novos fluxos de refugiados dirigidos à Europa desde o início da segunda década do século XXI. Com o intuito de explicar a nova crise dos refugiados, revisita-se o modelo de repulsão-atração e confronta-se o desígnio da agência – motivos individuais que induzem à migração – com a interferência da estrutura – fatores económicos, sociais e políticos que explicam o aumento dos fluxos, atendendo também à dinâmica e operacionalidade do enquadramento legal vigente no contexto europeu. Apesar da escassa evidência empírica ainda disponível, conclui-se que os novos movimentos de refugiados colocam profundos desafios à observação e análise teórica, bem como ao enquadramento legal existente, assumindo-se por isso que são necessários estudos mais aprofundados e novos instrumentos de regulação para responder à dimensão e complexidade dos fluxos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Catarina Reis Oliveira, Observatório das Migrações

Diretora do Observatório das Migrações de Portugal. Tem Doutoramento em Sociologia pelo ISCTE-IUL com a tese “Diver-Cidades empresariais em Portugal: estratégias de imigrantes em mercados locais”. Entre 2005 e 2016 foi Coordenadora do Gabinete de Estudos e Relações Internacionais do Alto Comissariado para as Migrações. Desde 2006 trabalha na sistematização e análise de informação estatística e administrativa acerca dos estrangeiros residentes, tendo em 2014 lançado a Coleção Imigração em Números do OM, que coordena, com um pouco mais de uma centena de indicadores de integração de imigrantes. Até 2005 foi docente da licenciatura de Sociologia na Universidade Nova de Lisboa e da Pós-Graduação em Migrações, Minorias Étnicas e Transnacionalismo na mesma instituição. Tem vindo a publicar extensamente acerca da integração dos imigrantes, nomeadamente acerca dos contributos da imigração para Portugal e das suas estratégias empresariais, sendo autora de vários capítulos de livros nacionais e internacionais, de artigos em Revistas Cientificas e de quatro livros. Em 1999-2000 recebeu uma Bolsa de Mérito pela Universidade Nova de Lisboa e em 2000 foi distinguida com um Prémio pela Fundação Calouste Gulbenkian na área científica Multiculturalismo e etnicidade na sociedade contemporânea.

João Peixoto, ISEG, Universidade de Lisboa

Professor Catedrático no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa e investigador no SOCIUS/CSG - Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações, da mesma instituição. Estudou Sociologia no ISCTE, Lisboa, e obteve o doutoramento em Sociologia Económica e das Organizações no ISEG. Áreas de interesse: migrações internacionais, demografia, sociologia económica.

Pedro Góis, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e CES-UC

Sociólogo (Universidade de Coimbra, 1996), Mestre em Sociologia (Universidade de Coimbra, 2003) e Doutor em Sociologia (Sociologia da Cultura, do Conhecimento e da Comunicação) (Universidade de Coimbra, 2011). Foi até 2015 docente na Universidade do Porto, onde leccionou nas Faculdades de Belas Artes, Psicologia e Ciências da Educação e Faculdade de Letras. É atualmente Professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais. Tem vários livros e numerosos artigos publicados em Portugal e no estrangeiro sobre migrações internacionais, sociologia da etnicidade e sociologia da identidade. No domínio das migrações em Portugal e/ou na Europa, tem publicado sobre emigração portuguesa, cabo‑verdiana, ucraniana e brasileira. Nos últimos anos foi consultor em vários projetos da Organização Internacional das Migrações na Arménia, Nigéria, Brasil, Irlanda, Bélgica, Cabo Verde e Portugal.

Referências

ALTAI, C. Migration trends across the Mediterranean: connecting the dots. Cairo: IOM, 2015. Disponível em: <http://publications.iom.int/system/les/pdf/altai_migration_trends_accross_the_Mediterranean.pdf>. Acesso em: 15 maio 2017.

ARANGO, J. Explaining migration: a critical view. International Social Science Journal, v. 52, n. 165, p. 283-296, 2000.

BAKEWELL, O. Some reflections on structure and agency in migration theory. Journal of Ethnic and Migration Studies, v. 36, n. 10, p. 1689-1708, 2010.

BANJEREE, S.; BLACK, R.; KNIVETON, D. Migration as an effective mode of adaptation to climate change. Bruxelas: European Commission, 2012.

BANULESCU-BOGDAN, N.; FRATZKE, S. Europe’s migration crisis in context: why now and what next? Migration Information Source, Migration Policy Institute, September 24, 2015.

CARLING, J. Migration control and migrant fatalities at the Spanish-African borders. International Migration Review, v. 41, n. 2, p. 316-343, 2007.

COLLINSON, S. The political economy of migration processes: an agenda for migration research and analysis. Oxford: University of Oxford, 2009 (International Migration Institute Working Paper, n. 12).

DE HAAS, H. Turning the tide? Why development will not stop migration. Development and Change, v. 38, n. 5, p. 819-841, 2007.

______. Mediterranean migration futures: patterns, drivers and scenarios. Global Environmental Change, v. 21, n. 1, p. 59-69, 2011.

FIDDIAN-QASMIYEH, E.; LOESCHER, G.; LONG, K.; SIGONA, N. (Ed.). The Oxford handbook of refugee and forced migration studies. Oxford: Oxford University Press, 2014.

FRANKEMA, E. The colonial roots of land inequality: Geography, factor endowments, or institutions? The Economic History Review, v. 63, n. 2, p. 418-451, 2010.

GAMMELTOFT-HANSEN, T.; SORENSEN, N. (Ed.). The migration industry and the commercialization of international migration. Londres: Routledge, 2005.

GLICK-SCHILLER, N.; BASCH, L.; BLANC-SZANTON, C. Towards a transnational perspective on migration: race, class, ethnicity, and nationalism reconsidered. Nova Iorque: Annals of the New York Academy of Sciences, 1992.

HAUG, S. Migration networks and migration decision-making. Journal of Ethnic and Migration Studies, v. 34, n. 4, p. 585-605, 2008.

JACKSON, J. A. Migrações. Lisboa: Ed. Escher, 1991.

KING, R. Theories and typologies of migration: an overview and a primer. Malmo: Malmo University, 2012. Disponível em: <https://www.mah.se/upload/Forskningscentrum/MIM/WB/WB%203.12.pdf>. Acesso em: 15 maio 2017.

KLABUNDE, A.; WILLEKENS, F. Decision-making in agent-based models of migration: state of the art and challenges. European Journal of Population, v. 32, n. 1, p. 73-97, 2016.

LEE, E. S. A theory of migration. Demography, v. 3, n. 1, p. 47-57, 1966.

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. International migration following environmental and geopolitical shocks: how can OECD countries respond? International Migration Outlook 2016. Paris: OECD, 2016. p. 147-236.

OIM – Organização Internacional para as Migrações. Mixed migration flows in the Mediterranean and Beyond. Compilation of available data and information 2015. Disponível em: . Acesso em: 15 jul. 2016.

_________. Mixed migration flows in the Mediterranean and Beyond. Compilation of available data and information 2016. Disponível em: <http://migration.iom.int/docs/2016_Flows_to_Europe_Overview.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2017.

PEIXOTO, J. As teorias explicativas das migrações: teorias micro e macro-sociológicas. Lisboa: Socius, 2004 (SOCIUS Working Papers, n. 11).

PEIXOTO, J. et al. O tráfico de migrantes em Portugal: perspectivas sociológicas, jurídicas e políticas. Lisboa: OI/Acime, 2005.

RAVENSTEIN, E. G. The laws of migration. Journal of the Royal Statistical Society, v. 48, part II, p. 167-227, 1885.

_________. The laws of migration. Journal of the Royal Statistical Society, v. 52, part II, p. 241-301, 1889.

REICHLOVÁ, N. Can the theory of motivation explain migration decisions? Praga: Institute of Economic Studies, Faculty of Social Sciences, Charles University, 2005 (Working Paper UK FSW--IES, n. 97).

RICHMOND, A. H. Sociological theories of international migration: the case of refugees. Current Sociology, v. 36, n. 2, p. 7-25, 1988.

_________. Reactive migration: sociological perspectives on refugee movements. Journal of Refugee Studies, v. 6, n. 1, p. 7-24, 1993.

SASSEN, S. The mobility of labour and capital. Cambridge: Cambridge University Press, 1988.

SILVER, B. Forces of labor. Workers’ movements and globalization since 1870. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

SJAASTAD, L. A. The costs and returns of human migration. The Journal of Political Economy, v. 70, n. 5, part 2 (supplement), p. 80-93, 1962.

TRIANDAFYLLIDOU, A. Beyond irregular migration governance: zooming in on migrants’ agency. European Journal of Migration and Law, n. 9, p. 1-11, 2017.

UN – United Nations. Trends in international migrant stock: the 2015 revision. Nova Iorque: United Nations, 2016.

VAN HEAR, N. Theories of migration and social change. Journal of Ethnic and Migration Studies, v. 36, n. 10, p. 1531-1536, 2010.

VÉRON, J.; GOLAZ, V. Can environmental migration be measured? Population & Societies, n. 522, 2015.

Downloads

Publicado

2017-08-23

Como Citar

Oliveira, C. R., Peixoto, J., & Góis, P. (2017). A nova crise dos refugiados na Europa: o modelo de repulsão-atração revisitado e os desafios para as políticas migratórias. Revista Brasileira De Estudos De População, 34(1), 73–98. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0016

Edição

Seção

Artigos originais